Texto por Colaborador: 27/03/2017 -

Neste sábado as 10:30, o time auri-negro entra em campo na Veltins-Arena em um daqueles jogos em que toda a Alemanha e o Mundo aguardam com mais expectativa: o derby.

O duelo não retrata apenas mais uma partida ou simplesmente um jogo qualquer. As equipes são rivais de longa data. A sensação é deliberada, rivalidade aguçada, honra em campo, luta pelo domínio da região, estádio com capacidade máxima e fanatismo exacerbado. Sem dúvida, um campeonato à parte dentro da própria Bundesliga. A sensação é única e indescritível. O Derby do Ruhr, como é chamado este clássico, proporciona e intensifica, ainda mais, a paixão dos germânicos pelo futebol. É o dia em que Dortmund se veste de amarelo e preto e, perto dali, Gelsenkirchen está de azul e branco.

Revier significa “área” em alemão, então uma tradução literal para Revierderby seria “O Clássico da Área”. Isso porque Dortmund e Gelsenkirchen são duas cidades próximas, localizadas na Área do Vale do Ruhr, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, que é “apenas” a maior região industrial da Europa. Fatores para o acirramento da rivalidade não faltam. Um deles é a proximidade geográfica (o espaço que separa uma cidade da outra nessa região é irrisório, sendo quase tudo um grande amálgama). Outro fator é o perfil dos torcedores de ambos os clubes, que são, em sua maioria, da classe trabalhadora. Em geral, times com fãs na base trabalhadora tendem a ter torcidas com mais, digamos, intensidade, já que o futebol sempre foi uma válvula de escape e é culturalmente atrelado ao “povão”).

Outro fator que sustenta a rivalidade é o fato dos Azuis terem sido absurdamente superiores nos primórdios do confronto. Pra se ter uma idéia, nos 18 primeiros jogos, foram 17 vitórias para o time de Gelsenkirchen e um empate. Os “mineiros” eram o time a ser batido na primeira metade do século passado.

A primeira partida data de 1925, com vitória do Schalke por 4×2. Vieram mais duas vitórias azuis, nos dois anos seguintes. Um grande intervalo entre os confrontos (1927 a 1936) se deu devido à separação das agremiações em ligas distritais distintas. Nessa época, ainda não existia uma grande rivalidade.

Foi com o advento da “Gauliga”, que durou de 1936 a 1944 (sob o domínio nazista), que a rivalidade criou corpo, pois os confrontos eram mais frequentes e as surras sistemáticas infligidas pelo Schalke deviam causar úlceras nos torcedores prussianos, ávidos pela vitória desvirginal. A desforra veio apenas em novembro de 1943, com uma vitória pelo placar mínimo, com gol de uma das lendas do clube aurinegro, August Lenz.

Essa era findou com 19 jogos, sendo 17 vitórias pro Schalke, um empate e uma vitória pro Dortmund. E a “dinastia azul” terminou com seis títulos nacionais (1934, 1935, 1937, 1939, 1940 e 1942) e três vices (1933, 1938 e 1941).

O eixo do confronto começou a pender para o lado dos Schwartzgelben (pretos e amarelos) com o fim da Segunda Guerra Mundial. Foram 16 vitórias, 10 empates e 7 derrotas para o time de Dortmund.

O Fortalecimento do BVB 09 em âmbito nacional tornou a rivalidade mais intensa, pois agora era a vez do Schalke 04 tentar sobrepujar o poderio do time rival. Nesse intervalo, o Borussia venceu 3 títulos nacionais (1956, 1957 e 1963), além de dois vices-campeonatos (1949 e 1961).

Nesse momento, o equilíbrio veio com o esfacelamento do vínculo (até hoje sondado, mas nunca comprovado) entre o clube de Gelsenkirchen e o regime do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (Partido Nazista). Muitos indícios fazem a suspeita ter fundamento, já que dentre todos os seus 7 títulos nacionais, 6 foram conquistados durante o Reich III, que durou de 1933 a 1945, com a vitória aliada na Segunda Grande Guerra Mundial. Nesse período, o Schalke 04 obteve nada menos que 162 vitórias em 189 jogos, somando ainda 21 empates e tão somente 6 derrotas. E entre 1935 a 1939 mantiveram-se invencíveis, sendo sua marca utilizada pela propaganda nazista.

O Borussia Dortmund, por sua vez, teve seu presidente substituído quando o vigente se recusou a filiar-se ao Partido de Hitler, enquanto vários membros que usavam as dependências do clube para a propagação de panfletos anti-regime foram executados nos últimos dias de Guerra. Eis outro fator que permeia essa rivalidade centenária: a relação ideológica com o Reich. Com a derrocada nazista, todo o futebol alemão voltou à estaca zero e isso equalizou as chances dos times, pois com a presença aliada, as associações, de qualquer natureza, foram dissolvidas, para dissipar qualquer vínculo com o passado recente e nefasto, e tiveram que se refundar.

No começo da bundesliga, o BVB começou mantendo sua superioridade, com 8 vitórias nos 10 primeiros jogos, mas tudo começou a degringolar paras os “abelhas” com uma derrota por 1×0 em 1968. Essa partida iniciou uma sequência de 9 partidas invictas pelo lado azul do Ruhr, entre elas um devastador 3×0, em março de 1972, que rebaixou o time de Dortmund. Foi uma era negra de 10 anos sem o Schalke perder, já que as divisões distintas os impediam de jogar entre si. O pesadelo findou em novembro de 1977, com um 2×1, no saudoso estádio de Rote Erde (Terra Vermelha), com gol aos 42 minutos do segundo tempo. Era novamente o início de um predomínio do lado amarelo do Ruhr. Em 1988, foi a vez do Schalke ser rebaixado e ver seu ácido rival de baixo.

Algumas alternâncias de sequência de vitórias ao longo da década de 1990, mas no quesito títulos, os Prussianos levaram a melhor, com os títulos alemães de 1995 e 1996, enquanto o Schalke passou em branco.

Certa vez,  Kevin Großkreutz, ex-joagador do BVB, declarou que deserdaria um eventual filho, caso o moleque viesse a torcer pelos azuis. E completou: “Não basta vencer, tem que ridicularizar e esfregá-los ao chão, pois é isso o que a torcida espera. Vencê-los é mais importante que vencer o Bayern!”. Declarações como essa dão o tom do quão arraigada é essa rivalidade. Tanto que no último clássico realizado no Signal Iduna Park, houve quebra-quebra e pancadaria, com mais de 200 envolvidos detidos pela Polizei.

Muitas páginas ainda hão de ser escrita nessa história. Às vezes, em tons azuis, outras, em amarelo. Mas algo é certo: essa é uma das mais interessantes e ardentes rivalidades do Velho Mundo, que os verdadeiros amantes do futebol devem parar para conhecer e, quem sabe, se emocionar.

JOGOS: 96
VÍTORIAS: 34
EMPATES: 29
DERROTAS: 33
GOLS FAVOR: 147
GOLS CONTRA: 135

Fonte: Doentes por Futebol.com.br

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