Após superar uma lesão muscular, Ramy Bensebaini voltou à equipe titular do Borussia Dortmund na goleada por 6 a 0 sobre o Union Berlin. Depois de uma primeira temporada desafiadora, marcada por lesões e contratempos, o lateral argelino de 29 anos se tornou indispensável no time principal. Em entrevista exclusiva, ele fala sobre sua evolução, família e orgulho nacional.
O lateral precisou de um período de adaptação, mas agora está completamente integrado ao Dortmund. Forte nos duelos, dedicado, tecnicamente habilidoso e com capacidade de finalização, o argelino possui tudo o que um treinador deseja. Além disso, demonstra notável versatilidade tática. No final de janeiro, durante o confronto contra o Donetsk pela Liga dos Campeões, os torcedores se surpreenderam ao vê-lo atuar ao lado de Marcel Sabitzer no meio-campo central quando o time estava com a posse de bola e no ataque – para então rapidamente retornar à lateral esquerda quando o adversário contra-atacava.
Bensebaini é um jogador direto. Normalmente vence seis a cada dez disputas de bola – no ano passado, seu índice foi de 62%. Suas disputas são duras, porém leais: apenas doze faltas foram marcadas contra ele na temporada passada. Sua competência técnica é notável, especialmente no controle e domínio de bolas altas, onde demonstra segurança impressionante. Ramy não é um "rei dos cruzamentos" ou um típico jogador de corredor que sobe e desce pela linha lateral lançando bolas para o centro. Ele é um lateral que busca o caminho para o ataque com qualidade e gosta de participar das combinações ofensivas.
Um exemplo? No mencionado jogo contra o Donetsk, ele recebe um passe de Jamie Gittens, controla a bola com o pé e, simultaneamente, observa as opções à sua frente. "Vi que Gio [Reyna] estava na minha frente e tentei jogar com ele. Com sua qualidade técnica, ele conseguiu me encontrar atrás dele", explica. Após a bem-sucedida tabela com Reyna, Bensebaini se posiciona pelo lado esquerdo da área adversária e mantém a calma. Não há uma finalização apressada, mas sim um delicado toque por cobertura para o gol do 3 a 1. "Quando fiquei cara a cara com o goleiro, quis fazer uma finta para ver sua reação. Mas na verdade ele não se moveu, então pensei: 'Ok, vou encobri-lo'. E consegui."
O que parece simples tem uma história interessante por trás. As habilidades técnicas e a visão de jogo sob pressão não são coincidência. Ramy Bensebaini nasceu e cresceu em Constantine, cidade do leste da Argélia que, com cerca de 450.000 habitantes, é a terceira maior metrópole do país, atrás de Argel e Oran. A cidade possui uma universidade e é caracterizada por construções antigas e medievais.
Aos 12 anos, Ramy se transferiu para a academia do Paradou AC, na capital Argel. Lá, grande importância era dada ao tratamento da bola, usando métodos pouco convencionais para os padrões europeus: os garotos treinavam e jogavam descalços – e atuavam sem goleiro!
"Sim, é verdade. Eles nos disseram que era para ter mais controle sobre a bola. Quando você joga com chuteiras, não tem o mesmo controle. Era uma questão técnica. Você melhora nisso. Joguei descalço por três anos e meio. Treinava descalço, jogávamos partidas descalços", confirma o lateral.
Até mesmo em jogos oficiais? "Sim, também nas partidas. Jogávamos contra adversários que usavam chuteiras. Era muito complicado e muito doloroso, especialmente quando alguém pisava no seu pé. Doía muito."
E realmente não havia goleiro? "Sim, no início jogávamos sem goleiro. Mas, na verdade, é preciso saber que eram apenas jogos amistosos. Como éramos jovens, só disputávamos amistosos. Tínhamos um jogador extra, mas não tínhamos goleiro. Era sobre defender bem e pressionar o adversário, porque se você der tempo a ele, fica mais fácil finalizar de longe. A ênfase estava em sair e pressionar, porque você nunca devia deixar o adversário chutar."
Aos 19 anos, transferiu-se para o Lierse SK, na Bélgica, seguido por passagens pelo Montpellier e Stade Rennes, na França, onde conquistou a Copa em 2019 ao vencer o Paris Saint-Germain na final. Na disputa de pênaltis, Bensebaini converteu sua cobrança para o Rennes. Anteriormente, na semifinal contra o Lyon, havia marcado o gol decisivo. Vale lembrar: o Borussia Dortmund não tem apenas Emre Can e Serhou Guirassy como batedores extremamente confiáveis de pênaltis. Se o time precisar disputar uma decisão por penalidades, Niko Kovac pode confiar em Ramy Bensebaini. O argelino converteu todas as suas sete cobranças na Bundesliga (todas pelo seu clube anterior, o Mönchengladbach).
2019 foi o ano de Bensebaini. Campeão da Copa com o Stade Rennes. E com a Argélia, vencedor da Copa Africana de Nações. Quando pensa no período do torneio no Egito, Ramy ainda sente arrepios, quase seis anos depois. "Foi incrível. É uma lembrança que ficará para sempre na minha cabeça e, acredito, também na cabeça dos outros jogadores que estavam lá. Éramos praticamente imbatíveis naquele torneio. Formávamos um grupo muito forte. Dentro e fora de campo. Não sei como explicar: fomos lá para jogar futebol. E já sabíamos que iríamos vencer."
A medalha? "Está na minha casa. Minha mãe queria ficar com ela, mas eu a peguei de volta."
Há oito anos na seleção nacional, isso é motivo de orgulho especial para ele: "Sim. A seleção nacional, a Argélia, é realmente algo que me orgulha. Desde que comecei no futebol, sempre foi um objetivo entrar na seleção, pelo qual trabalhei duro. Através da minha seriedade dentro e fora de campo. E sim, simplesmente me orgulho de fazer parte da seleção."
O que significa pátria para ele? "Pátria é o país de origem. É a Argélia, é o orgulho. É meu lar."
Nos breves períodos sem jogos, ter a família por perto faz esquecer rapidamente o desgaste das viagens? "Sim, muito, muito rapidamente. Então você vê sua família, vê sua irmã mais nova. Fico um pouco com eles. Depois encontro amigos de infância. Ajuda muito a reviver memórias antigas."
Ramy tem orgulho especial de sua irmã, que estuda medicina. "Sim, tenho muito, muito orgulho da Mayssane. Porque não foi fácil para ela crescer sem o irmão, já que deixei meus pais e fui para a academia quando tinha 11 anos. Eu tinha 11, ela seis. Ela fez tudo sozinha, claro, com o apoio da minha mãe e do meu pai. Se hoje ela chegou longe, é porque merece. Desejo-lhe muita coragem e simplesmente tenho orgulho dela."
Desde o final de janeiro, Mayssane está na Alemanha. Ramy gostaria de tê-la ao seu lado algumas semanas antes. Logo antes do início do ano, no jogo contra o Leverkusen, ele e meia dúzia de companheiros foram atingidos por uma forte gripe. Sob a pressão da escassez de jogadores e com temperatura corporal em queda, Bensebaini se disponibilizou para jogar contra o Kiel. Quatro dias depois, pouco antes do início do jogo em Frankfurt, surgiram dores de dente. O filósofo do futebol Jürgen Wegmann diagnosticaria: "Quando você não tem sorte, o azar também aparece."
Olhando para trás, teria sido melhor não jogar? "Eu queria ajudar o time. Queria estar com ele. Hoje sei que não foi uma boa decisão minha, porque realmente não estava em forma. Teria sido melhor se não tivesse jogado contra Kiel e Frankfurt, mas esperado um pouco mais. Acabei extraindo o dente. Era muito doloroso. Nem conseguia dormir à noite. Agora está tudo bem novamente."
Isso é algo que o público nunca vê... "Os espectadores vêm para ver o jogo. E não sabem o que mais acontece. Eles podem esperar: se você está em campo como jogador, então está 100% comprometido. Houve os maus resultados, o treinador, Nuri, foi demitido. Foi muito complicado para mim e para o clube."
Há pessoas com quem ele pode conversar? Ou superou essa fase sozinho? "Não gosto muito de falar. É minha mãe que conversa constantemente comigo. Ela me liga dez vezes por dia. Nesse período, ela tentou especialmente me animar. Então a resposta é: minha mãe. Gosto de ficar no meu canto, na minha bolha."
Seu coração se alegra quando sua mãe o visita em Dortmund? "Claro, claro, sempre fico feliz. Mas agora está um pouco complicado para ela, porque minha irmã também se mudou. Mas ela vem sempre que possível."
Com qual companheiro de equipe tem o contato mais próximo? "Com Serhou. Como ambos falamos francês, é mais fácil nos comunicarmos. E ambos jogamos no mesmo clube: quando saí do Rennes, Serhou estava chegando."
Que progresso fez em comparação com seu primeiro ano no BVB, e o que ainda gostaria de melhorar? "Primeiro de tudo, me sinto muito mais confortável. Minha primeira temporada foi complicada em termos de adaptação. Novo clube, novos torcedores e uma pressão diferente. As pessoas viram que estou ficando cada vez melhor. Dou tudo e tento ajudar o time onde posso. No momento, as coisas estão indo bem em geral, e espero que continue assim. Confio nas minhas habilidades. Como disse, estamos voltando aos poucos após um período muito complicado para mim, para o clube e para os outros jogadores."
Nunca desistir faz parte do seu jogo? "Tento dar cem por cento em cada ação, especialmente na defesa. Quero fazer parte do time. Se puder ajudar também no ataque, não vou perder essa oportunidade."
Como aos 79 minutos do jogo da Liga dos Campeões contra o Shakhtar Donetsk. O ticker do kicker descreveu a cena assim: "A jogada decisiva neste jogo – e que linda! Bensebaini serve Reyna na área, continua a corrida e recebe a bola de volta do americano, que, mesmo marcado por dois adversários, devolve magnificamente de calcanhar para o argelino. Este fica sozinho diante de Riznyk e encobre o goleiro com categoria." Foi seu quarto gol na Liga dos Campeões, dois pelo Gladbach, dois pelo Dortmund. Em 130 jogos da Bundesliga, Ramy Bensebaini marcou 20 gols. Um número impressionante para um lateral. Para comparação: Philipp Lahm marcou 14 vezes em 385 partidas da Bundesliga. E na vitória por 2 a 1 fora de casa contra o Heidenheim, ele deu sua quinta assistência nesta temporada.